A Rússia e o novo Munique de 2020
A migração massiva de ex-cidadãos soviéticos no exterior abriu enormes perspectivas para os
serviços secretos russos. Em particular, a organização de partidos “russos”
falsos, formados por migrantes que tentam entrar nos parlamentos de estados europeus
e no Parlamento Europeu.
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The massive migration of ex-Soviet citizens abroad has opened up huge
prospects for Russian secret services. In particular, the organization of fake “Russian”
political parties, made up of migrants trying to enter the parliaments of
European states and the European Parliament.
A primeira
tentativa “pan-europeia” foi feita em 2004, quando surgiu a Aliança Russa
Europeia – uma “organização não governamental que une figuras públicas russas,
jornalistas e políticos de países da UE”. A Aliança incluía representantes de
20 países europeus, o primeiro nome desta organização foi “Partido Russo da
Europa”.
Na Alemanha, em
2013, foi criado o partido de emigrantes russos, chamado Die Einheit (Unidade),
liderado por Dmitry Rempel, ex-ativista do SPD. Mas em geral, na Alemanha, Moscovo
usa o método mais eficaz, financiando os grandes partidos parlamentares de
direita e da esquerda, já existentes. Hoje, Bundestag conta com dois deputados
russos pertencentes ao partido radical de direita “Alternativa para a Alemanha”
(AfD). O partido da esquerda Die Linke também se comporta abertamente a favor
da Rússia.
Os partidos e organizações controláveis são projetos dos serviços secretos russos, cujo
objetivo é te-los sob o seu controlo nos parlamentos nacionais dos países estrangeiros,
a fim de influenciar a situação política, desestabilizando-a em diferentes
países, levando ao poder parlamentares obedientes à Rússia e eleger os
governantes fieis ao Kremlin.
Estes partidos e
organizações perseguem várias tarefas. Primeiro, influenciar a emigração, fazer
a propaganda do regime de Putin, recrutando os apoiantes. Em segundo lugar,
penetrar na vida pública e política de estados estrangeiros, desestabilizá-los,
recrutar agentes e influenciá-los numa direção favorável ao governo russo. A
terceira tarefa é a espionagem militar e industrial direta.
Kremlin lançou na Europa uma atividade vigorosa para subornar partidos da
oposição em países com fortes avaliações negativas das atividades da federação
russa, que visa o colapso económico da Europa.
Com a chegada ao
poder de Putin, Rússia fez da República Checa uma base para suas atividades de
inteligência em toda a região da Europa Central. O presidente pró-Kremlin da
República Checa, Zeman desvaloriza constantemente o trabalho dos seus próprios serviços
secretos. Na sua opinião, não há espiões russos no país. O Kremlin está influenciando
ativamente os lobistas checos da indústria nuclear, recrutando cientistas,
industriais e gestores de grandes corporações internacionais.
Após o colapso da
URSS e a dissolução formal do KGB, na República Checa restaram muitos oficiais
e agentes que se tornaram empresários. Eles imediatamente estabeleceram
contatos com a máfia russa, cuja capital não oficial se tornou a cidade de Karlovy
Vary.
A líder da “Frente
Nacional” Marine Le Pen recebeu um empréstimo (de no mínimo) 11 milhões de
euros de bancos russos, que foram usados na sua campanha eleitoral. Como
resultado, o partido apoiou a anexação russa da Crimeia e se opõe às sanções impostas
pela União Europeia à Rússia.
Em 2018, ficou
conhecido o encontro entre Matteo Salvini, líder da “Liga” e representantes da administração
presidencial russa, durante o qual foi debatido um esquema para financiar a
campanha da “Liga” no valor de 65 milhões de euros.
Em 2019, surgiram
informações sobre a reunião entre o presidente do Partido da Liberdade
Austríaco (FPÖ), Heinz-Christian Strache e o chefe da bancada parlamentar da FPÖ,
Johann Gudenus, com uma representante dos serviços secretos russos, oferecendo
financiamento generoso em troca de contratos que não eram benéficos para suas
empresas, o que diz sobre a prontidão do mais alto establishment político austríaco
em fazer negócios sujos com a Federação Russa.
A Rússia e Putin à frente do país sempre se concentraram no setor energético
como uma alavanca de influência externa.
Putin criou forte influência
sobre Ucrânia, Bielorrússia, Polónia e Turquia para tornar esses países
dependentes da posição monopolista da Federação Russa no seu mercado de gás. No
futuro, Rússia pretendia aumentar acentuadamente os preços para obter
preferências políticas; no caso da Ucrânia e da Bielorrússia, estamos falando também
das reivindicações territoriais.
Uma estratégia
semelhante é realizada nos países da Europa Central, estabelecendo novos
gasodutos diretamente ou através do território de aliados situacionais e,
assim, monopolizando o mercado da UE. Bulgária, Hungria, Moldávia e Roménia já
estão sob pressão energética da Federação Russa, Bielorrússia e Ucrânia
continuam resistindo ativamente ao estrangulamento energético de Moscovo.
Atualmente, a Europa permite à Federação Russa cercar-se de gasodutos, que não
são nada mais nada, senão as armas do Kremlin.
A Rússia cria pesadelos à Europa, assustando-a com desestabilização nos
Balcãs, que podem se tornar no novo calcanhar de Aquiles do Ocidente.
Um exemplo vivido é
a situação com a Macedónia: as forças pró-russas, de todas as maneiras, tentavam
impedir a mudança do nome do país, impedindo, dessa forma, a entrada da Macedónia na União Europeia e na NATO. O mesmo é feito em relação à Sérvia, onde
a Federação Russa influencia e tenta promover as contradições entre os países
vizinhos. A Rússia tentará reavivar todos os focos de instabilidade. Ela fará
isso com todas as suas forças, usando todo tipo de organizações paramilitares,
da pseudo-direita ou pseudo-esquerda.
Em 2016, o Kremlin apostou
numa ousada tentativa de golpe de estado no Montenegro, para impedir a entrada
do país na NATO. No final de 2019, mais uma vez, mais uma vez nos Balcãs foi
usado o fator religioso. Recentemente surgiu um conflito religioso entre a
Sérvia e o Kosovo e depois entre a Sérvia e o Montenegro. O fracasso das
operações da GRU e do FSB no Montenegro em 2016 em organizar um golpe para
impedir que o Montenegro se junte à NATO tem assombrado o Kremlin. Como
resultado, a operação dos serviços secretos russos falhou, e Montenegro
ingressou com sucesso na NATO em 2017. Se em 2016 os serviços secretos russos usaram
sua inteligência militar disfarçada, de momento eles estão usando seus agentes
da Igreja Ortodoxa Sérvia para desestabilizar a Europa.
A Rússia
é uma ameaça para si própria e para a ordem mundial.
A Carta
da ONU é único mecanismo de tomada de decisão
sobre o uso da força militar como o último argumento, disse Vladimir Putin na
43ª Conferência de Munique em 2007. Nada disso impediu Putin atacar Geórgia
em 2008, anexar a Crimeia e desencadear uma
guerra no leste da Ucrânia em 2014. Para Putin, a ONU é
apenas uma desculpa para encobrir suas atrocidades.
Em 2006, o jornal “Washington Post” comentou o termo “democracia soberana”,
introduzido por Putin, descrevendo-o como uma terminologia cunhada pelo Kremlin
para transmitir a mensagem de que o regime político na Rússia é democracia e que
essa afirmação deve ser tomada como uma doutrina quase religiosa. Ao mesmo
tempo, qualquer tentativa de verificação da realidade será considerada uma
interferência hostil nos assuntos internos da Rússia. Nesse contexto, é
lembrada uma piada: “Qual a diferença entre democracia e democracia soberana? É
a mesma que entre uma cadeira e uma cadeira elétrica”. O professor da
Universidade de Harvard, Richard Pipes, disse: “A democracia existe ou não
existe. Democracia, em grego, significa o poder do povo”, mas dificilmente isso
acontece na Rússia.
De fato, a Reforma Constitucional russa de 2020 é uma
consequência da ideologia do Kremlin do “longo estado de Putin”, incorporada a
partir da obstrução homónima ao modelo do sistema político, onde “Putin é o pai
da nação” e o Estado é o próprio Putin.
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